23 de mar. de 2011

Entrevista: Funeral Doom Metal do Lachrimatory

Para essa semana, convidamos para um papo um musico completo, além de ser graduado em musica, fundador da Banda Sarx Thanatos (que esta inativa no momento), no momento dedicado ao Lachrimatory, ao estudio Avant Garde e a projetos próprios, já deu aulas de musica, enfim, um cara que veste a camisa da musica. Estou falando de Maiko Thomé, violoncelo da banda Lachrimatory, que inclusive, tem show de lançamento do novo álbum no próximo sabado no Auditório do Largo.

Vito Cuneo - Como sempre faço as honras, quero agradecer a participação do Maiko, com a entrevista para o Blog Arquivo Metal CWB. E vamos começar apresentando a banda, afinal essa é a segunda vez que vocês aparecem no blog, estão um pouco sumidos da cena, mas considero o Lachrimatory a principal banda na cena Doom da cidade. Conte um pouco sobre a banda.

Maiko: Obrigado as vocês do Arquivo Metal CWB e a todos os que estiverem lendo espero estar contribuindo com um pouco de informação sobre nossos trabalhos. Sim Estivemos fazendo poucos shows nos últimos tempo, os ultimos 2 anos ocupamos nosso pouco tempo disponível na banda para trabalhar nos termino das composições e gravação para o "Transient" , nosso novo álbum, um material bem trabalhado que precisou de bastante atenção no processo. Bem a banda tem mais de 10 anos de existência, eu participo do grupo desde o final de 2002. A formação da banda era de 5 integrantes 2 guitarras, teclado/vocal, baixo e bateria. Após a gravação da primeira demo, a partir de 2003, a banda passou a contar com o violoncelo permeando todas as musicas. Fui convidado para assistir o ensaio da banda e "talvez "participar de uma ou outra musica nos shows. Fiquei impressionado com a musica da banda e com a seriedade dos músicos. Durante os ensaios acabamos resolvendo fazer um intensivo e colocar melodias de cello em todas as musicas e acabei ingressando definitivamente na banda. A Banda passou por algumas mudanças de integrantes e , naturalmente, de sonoridade, devido a contribuição de quem passou por ela. Tocamos bastante entre 2003 e 2005, em Curitiba, Santa Catarina e Rio grande do Sul, a partir de 2006 tocamos menos em Curitiba e acabamos tocando varias vezes em SC. Atualmente o Lacrimatory é formado por Ávila (teclados e vocal), Tiago Mendez(guitarra e vocal), Alexandre (guitarra e vocais), Maiko Thomé Araujo (violoncelo, flautas e vocais), Wagner Muller (Baixo) e Paulo Kolb (Bateria). A Banda segue a linha Death/Doom basicamente, mas com inclinação para o Funeral Doom, tendo passagens atmosféricas e bastante influência de música orquestral, marcada pelos instrumentos acústicos e passagens aos teclados que oferecem linhas melódicas e contrapontos por toda musica.

VC - O som Doom é bastante característico e peculiar. Quais as influências e como vocês definem o som da banda?

Maiko: O Doom é um estilo que sempre carrega serias reflexões sobre a existência, a condição humana e sua problemática, ou mesmo acontecimentos contundentes para os sujeitos, leva ao publico misturado a conceitos filosóficos, opiniões diversas, metáforas, poemas ou crônicas, até mesmo sem falar nada, falando apenas com acordes, golpes e melodias, numa espécie de catarse assistida, pronunciada de forma agressiva ou letárgica muitas vezes pessimista ou diria até, assustadoramente realista. Cada um dentro da banda tem suas inclinações diante dessa catergoria de música, assim como seu próprio entendimento de cada assunto, mesclamos nossos gostos musicais para compor o material sonoro emprestando tendências de vertentes como Death Doom, bastante agressivo, rancoroso, é alinha que costuma ter andamentos mais rápidos dentro do estilo com pedais duplos algumas vezes cerrados, o Funeral Doom, mais letárgico, meditativo, monótono e minimalista, essa tendência contaminou a banda em meio ao que eu arriscaria chamar de 2º fase do Lachrimatory e se mantém presente nas musicas nas passagens onde a lírica necessitar. Outra característica básica da nossa composição e inserção constante de linhas melódicas reservadas para o violoncelo, e mesmo em passagens onde o violoncelo se mistura com a estrutura ouvir-se-á alguma linha melódica enriquecendo a composição, seja com teclados simulando nipes de orquestra, flautas, que eventualmente eu toco, alguns vocais melódicos ou melodias de guitarra.

VC - Portanto, quais temas a banda abrange em suas composições? Do que se tratam as letras?


Maiko: De certa forma me estendi falando disso na questão anterior, fizemos questão de colocar as letras no encarte, deixamos, assim, para todos, a oportunidade e compreende-las, acompanhadas daqueles sons, com seus próprios sentido.

VC - Além da banda você tem outras atividades ligada a musica, certo? Conte sobre o estúdio Avant Garde e a experiência para nosso publico e outros músicos.

Maiko
: A idéia de montar o estúdio veio quando eu procurava um que fosse adequado para gravar minha banda, na época o Sarx Thanatos (Gothic Metal), pesquisei preços, conversei com os produtores, e nada me convencia, mesmo os estudios com mais estrutura, não acreditava que compreenderiam o estilo de verdade, alem de ser comum os produtores desses estúdios desprezarem as bandas iniciantes, ainda mais de metal. Pensei que poderia, eu mesmo, fazer algo com mais dedicação do que aqueles produtores, e o q gastaria poderia comprar alguns equipamentos basicos, inicialmente fiz experiências na cega, mas logo vi que se eu estudasse e comprasse equipamentos adequandos poderia gravar bem minha banda, bem pra encurtar, enquanto fazia minhas experiências, passava meu tempo livre lendo e pesquisando tudo que fosse possível pra aprender e quando comprei os equipamentos básicos, ja conseguia fazer as coisas relativamente bem e as bandas começaram a se interessar em gravar comigo. Assim procurei trabalhar com as bandas com o método que eu não encontrava naquela época, alem de oferecer essa alternativa com um preço acessível, tentando compreender o som, respeitando os músicos e aprendendo com cada experiência. O estúdio também sempre funcionou como "home studio", gosto de trabalhar em casa e ter mais liberdade, apesar de perder um pouco a privacidade eu prefiro assim, da mesma forma que gosto de trabalhar sozinho e recebendo o pessoal das bandas como amigos na minha casa. Montei recentemente um set de filmagem aqui para fazer experiências com vídeos que gosto muito, e aos poucos vou podendo oferecer esse trabalho para o pessoal também.


VC - Além do estúdio e das bandas, você já deu aulas de musica, trabalhou com processo de musicalização, também quero pedir que você conte como foi essa experiência.

Maiko: Lecionei em escolas de música por 8 anos, numa delas por 4 anos seguidos, trabalhei muito com crianças a partir de 3 anos e meio (em verdadeiros "micro-instrumentos") e todas as faixas de idade incluindo até alunos com deficiências físicas e mentais. Foi uma tremenda escola de vida pra mim, corri atrás de me aperfeiçoar musicalmente, pela necessidade de acompanhar os alunos, aprendi varios instrumentos e também a ser pratico com arranjos, ensaios, entender e lidar melhor com as nossas limitações e as dos outros. Era uma correria cheguei a dar 43 aulas semanais em algumas temporadas, organizando até 5 apresentações de alunos por ano, confesso que me esgotei bastante ao final daqueles tempos, foi quando resolvi montar o estúdio e mudar um pouco o rumo, de qualquer forma todos os dias aqui com o trabalho no estúdio acredito que aproveito algo aprendido nessa época.

VC - Bom, então, podemos considerar que você usa a musica como profissão? Mas e banda, também é profissão ou apenas diversão?

Maiko: Não, não tenho nenhuma banda como profissão, acabo sempre me interessando por vertentes musicais que não poderiam gerar uma renda solida com o seu produto ou por outras bastante excêntricas neste país, como Música Antiga (medieval, renascentista e barroca), musica celta além é claro de Metal. Posso dizer que não conheço nenhuma pessoa por aqui que sobreviva somente com a venda de Cds de metal de sua banda mas isso ocorre em muitas categorias na arte, nem é questão de ficar se lamentando, esse tipo de coisa sempre existiu, faço meus trabalhos musicais com seriedade e gosto, para mim e os que apreciam. Bons músicos dessa área (Metal) acabam trabalhando com atividades ligadas a ela como bares com musica ao vivo, casas de show, produtoras, estúdios de ensaio ou gravação, comércio de instrumentos musicais ou vestuário, escolas de música, etc, tendo assim uma vida mais estável sem se distanciar muito do que gosta de fazer, e não é diferente lá fora com a maioria dos artistas dessa linha. No meu caso, ainda acabo tocando eventualmente com bandas ou grupos de musica de câmara mediante a cachês mas não é exatamente o meu filão.

VC - Como vocês fazem a divulgação da banda?

Maiko: Quem fica a frente disso na banda é o Alex e o Tiago, um mais com os contatos e divulgação e o outro com a arte gráfica. Divulgamos nossas atividades no site oficial http://www.lachrimatory.com/ myspace e fotolog.com e no orkut lachrimatory

8 - E os shows? Confesso que faz tempo que não vejo nada de vocês na cidade. Como esta a agenda da banda? Podemos esperar shows para 2011?

Maiko: Estamos nos preparando para um show dia 26 de março de 2011, no Auditório do Largo, onde contaremos com a presença de outras duas bandas de Doom Metal o Pain Of Soul e Agony Voices, ambas de Blumenal/SC. Gostariamos de fazer mais shows, é muito raro reunir as condições necessárias para a apresentação adequada das composições, que mistura som pesado e denso, instrumentos acústicos (violoncelo e flautas), algumas vezes 3 pontos de vocais guturais, e em outras 1 ou 2 vocais "limpos" além de passagens importantes tocadas ao teclado precisam de clareza, além da questão da qualidade de som/equipamento, pelos mesmos motivos torna-se fundamental um tempo maior para preparar os equipamentos no palco, passagem de som, e pelo menos uma breve conversa com o técnico sobre o som, é o mínimo, eh muito difícil tocar violoncelo afinado ou cantar afinado em meio a um turbilhão de som, não tendo retorno claro e com problemas de todos os tipos devido àquela correria. Quando surgem viagens é preciso que haja ofertas de condições um pouco mais decentes para os artistas, não tem como deixar um violoncelo numa barraca em baixo de garoa e lama, ou passeado pela cidade com o motorista da van, e isso vale tambem pra todos os instrumentos da banda que não cairam do céu, alem disso, um lugar limpo pra tomar um banho para poder aproveitar o evento também depois dessa correria, quando eh pra ir apenas pra curtir eu vou, por que e só festa, mas pra tocar não dá.

VC - A cada entrevista pergunto as bandas, como cada um vê a cena Metal da cidade. Estou ansioso para sua resposta, pois considero você gabaritado pra isso. Então, como você vê a cena Metal de Curitiba? Você acha que tem união ou ainda existe competição e rivalidade entre bandas?

Maiko: Acho muitas bandas andam meio desorientadas, competição me lembra organização, trabalho, até seria bom se eu visse mais tendência a "competição", uma banda tentando surpreender a outra, surpreendendo por fim o publico com algo novo e interessante. Vejo como está dificil manter a unidade nas bandas, um entra e sai sem fim. Acho que esta faltando para algumas bandas abrir mais a cabeça também, parar de "continuar" a obra dos seus ídolos, dedicar mais tempo pra dizer suas próprias palavras nas letras, e compor coisas mais... "estranhas", sim, diferentes, ouvir estilos mais diversos, até instrumentos exóticos, por que não, nas artes as coisas novas sempre surgem de misturas. Pra não parecer pessimista aqui, quero dizer o que ando constatando - por sorte, com o meu trabalho no estudio, que varios desses músicos "órfaos de bandas" acabam vindo gravar ótimos trabalhos solo ou em parcerias, mesmo usando bateras sequenciadas ou tocando dois instrumentos ou mais, estes são as partes boas das bandas, que inconformados investem em criar e produzir suas músicas mesmo assim, o fato de não terem que dividir muitas opinioes no grupo acaba dando mais liberdade de criação. Eu mesmo não quero mais ficar lamentando esses entraves comuns de bandas e casas de show, decidi da mesma forma começar a gravar meus protos e videos por aqui no estúdio, para mostrar meus trabalhos e dos músicos que apostarem em suas idéias.

VC - Com as bandas de Curitiba, rola alguma parceria em shows e viagens? Quais bandas vocês tem mais contato?


Maiko: Olha, vou ser franco, não posso dizer que estou (e estamos) trabalhando muitos contatos ultimamente, estamos dedicando o pouco tempo que nos sobras dos nossos compromissos pessoais para terminar o cd e fazer um bom lançamento, para começarmos, quem sabe, uma nova fase no nosso som.
VC - Sobre as gravações da banda, a previsão pra março de 2011 o 2º álbum, "Transient", certo? Como foram as gravações desse álbum?

Maiko: O trabalho na produção, captação, edição e mixagem foi rápido, muito mais que no nosso primeiro album, pois estamos um pouco mas experientes com isso, mas o processo foi interrompido varias vezes, dificuldade conciliar os encontros para fazer ensaios de gravações de algumas etapas, modificações de ultima hora, alem disso uma das musicas foi gravada antes de estar totalmente composta, como nossas musicas tem 9 a 12 min, isso seria como 3 ou 4 tracks de tamanho habitual, então houveram diversos encontros para terminar a musica, e conciliar os horarios dos 6 integrantes foi o grande desafio deste Cd. O lado bom da demora é que nesse tempo pude investir em um violoncelo melhor que o que eu dispunha, faz uma enorme diferença, além é claro de ter mais tempo pra estudar hehe, (as partes são bem mais difíceis de tocar nesse álbum.

VC - Além desse álbum, vocês tem uma gravação de 2006 o "Anaminesic Voices Phenomena" e mais uma demo de 2002 “Sanity to Decrease”. Como foram as gravações desses álbuns. Quais as diferenças de um lançamento pro outro?


Maiko: Como disse antes, o álbum anterior, "Anaminesic Voices Phenomena" não tinhamos experiência nenhuma, começamos em 2005, gravando de forma bem precaria, depois com a compra de equipamnetos fomos compensando na finalização, o Sanity to Decrease eu ainda nao estava na banda, foi a primeira experiência da banda de ouvir a própria musica gravada, e acho q foi um aprendizado muito importante para todos na época.

VC - Chegamos ao final da entrevista, agradecemos muito a atenção do Maiko e desejo sucesso e boas oportunidades com esse novo trabalho! Deixe suas ultimas considerações para os leitores do Arquivo Metal CWB e o contato pra galera conhecer o som da banda!

Maiko: Gostaria de agradecer a todos do Arquivo Metal CWB pelo espaço e pela atenção, não só com o Lachrimatory mas também pelo empenho de divulgar os trabalhos das bandas da cidade. Aproveito, se me permitirem, convidar as bandas para conhecer o trabalho no meu estúdio o Avant Garde, ouvir os ultimos trabalhos realizados com as bandas e lembrar que o estúdio está inciando o trabalho de produção de vídeo clipes este ano. Abraço a todos.

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