A banda Motorockercedeu uma entrevista para Joel Kesher e que foi publicada no site Curitiba Tatuagem. Na entrevista, a banda aponta que superou o estigma de cover do AC/DC. Confira:
"Ambiente de show, casa lotada, barulho de uma banda de trash/death metal. Uma porta se abre – a porta da perdição, alguns poderiam dizer. Eu diria que só mais uma das muitas portas que a gente abre por aí. Educadamente, sou recebido com uma garrafa de sei lá o quê, mas que tinha álcool. E assim começa o bate papo com o pessoal do Motorocker. Banda mais que conhecida e credenciada aqui em Curitiba. A primeira pergunta, na verdade, sai deles “que tal ir lá fora?” e eu concordo, claro. Num lugar menos barulhento e muito mais arejado, começamos de fato a entrevista, sempre interrompida por fãs/amigos que vêm conversar com o pessoal. Porque o Motorocker é o tipo de banda que não tem fã, tem amigo. Mas nada que atrapalhe o andar das coisas, muito pelo contrário, tudo fica mais natural enquanto o pessoal me ajuda a conversar com os caras.
Juan Neto, o baterista da banda, é de longe o mais tímido dos 5. Mais na dele, pé no chão, do jeito que alguém que dá o tempo para uma banda precisa ser. É o tipo de cara que toda a banda sabe que, ao se perder, pode olhar pra ele que vai ser o porto seguro, o metrônomo fixo. Converso com ele sobre tatuagem, música, bandas, seus mais de 15 anos de baterista e a vida na estrada. O que eu tiro dessa conversa? Um cara que é aficionado por Phil Rudd, mas que tem ostenta orgulhosamente no braço uma tatuagem do Nazareth, e muito mais influência do que o AC/DC.
O segundo a passar pela minha máquina de raio x é o Silvio Krüger, baixista da banda. Um cara com cara de mal-encarado, e que no dia estava mau do estômago. Mas não se preocupe, é só a primeira impressão que a gente tem dele. Silvio é o tipo de cara que gosta de conversar ao seu jeito, e que, acima de tudo, é um apaixonado pelo instrumento que toca. Foi só começar a falar com ele sobre influências, que eu recebi uma aula sobre baixo e baixistas. Se fosse pra falar com ele sobre tudo o que ele tinha pra falar, com certeza meu tempo de uma hora de entrevista seria pouco. De influência, ele cita Les Claypool do Primus, Lemmy Kilmister, Robert Trujilo, Clif Burton, Geezer Butler e, claro, Clif Willians. Teria muito mais gente pra citar e muito mais coisa pra falar sobre o baixo, mas isso, a gente deixa pra uma futura matéria.
O riobranquense Thomas Jefferson, responsável por uma das guitarras da banda é um personagem peculiar. Do tipo de cara que com 15 anos já tocava na noite e com ela aprendeu sobre timbres, afinação, melodia, composição e tudo mais que essa escola pode ensinar, Thomas é o tipo de pessoa que faz questão de reforçar suas influências fora do eixo das guitarras, como Tião Carreiro, que ele trazia no peito durante a conversa. Ele reconhece que guitarristas como Kerry King, Tony Iommi, Slash e Adrian Smith fazem parte de suas fontes inspiradoras, mas faz questão de lembrar que na música caipira, de viola, você encontra referências para aprender muita coisa que você não aprende com distorção e powers cords.
Luciano Pico e sua guitarra modelo SG já são mais conhecidos da grande maioria das pessoas. O cara que faz papel de Angus no AC/DC Brasil e assume sua própria carapuça no Motorocker é, junto com Marcelus, o cara mais pop da banda. O que muita gente não sabe é que ele entrou na banda pouco tempo depois do encontro do Marcelus com o Angus. E entrou na banda também para fazer músicas próprias. Que ele, ao entrar no Motorocker, conhecia AC/DC, mas não CONHECIA AC/DC como a gente imagina que ele conheceria, a ponto de saber o nome dos 24 álbuns da banda (e você, sabe?). Na verdade, Luciano é um cara tranquilo, que reconhece em um cara como o Slash as características que fazem um grande guitarrista, ou seja, capacidade de não ser linear, de quebrar o padrão, de fazer diferente onde todos fazem igual. Claro que o Angus é uma influência dele, mas junto com ele estão David Gilmour, Tony Iommi e Manny Charlton. Outro cara que tem tantas histórias que bem merece uma matéria só pra ele.
Por último, propositadamente é claro, está Marcelus dos Santos. O frontman da banda é o tipo de sujeito naturalmente carismático. Com seu jeitão brucutu ele trata todo mundo com igualdade, respeito e uma pitada de bom humor. Marcelus é o tipo de cara que, se 2, 20 ou 200 pessoas pedirem autografo e foto, ele atende todo mundo. Começou como baterista há mais de 21 anos, migrou para o vocal e começou a escrever músicas próprias. Suas influências são as bandas que tocavam aqui em Curitiba em seus tempos de muleque. Dio, é outra influência, mas aquele que ele fala com o maior respeito e mais veneração sobre querer fazer igual é seu pai. “Se eu for 40% do homem que meu pai foi, eu já estarei feliz”, falou Marcelus (e aqui confesso que dividi com ele o mesmo sentimento). Ainda assim, ele faz questão de pontuar que, no palco, ele é ele mesmo, nunca deixará de ser ele mesmo e nunca vai tentar imitar um cara ou outro, independente de quem seja.
O Motorocker já está beirando seus 19 anos. Em sua trajetória conquistou um público fiel e renovado (alguns fãs são até mais novos que a banda). Ainda assim, a banda nunca esquece do público, do que eles devem fazer no palco e de como eles devem tratar o pessoal fora dele. Graças à internet, a banda conseguiu se tornar muito mais conhecida, e quando questionada sobre bandas pops, coloridas e etc, eles olham isso com descaso. Reconhecem que pode prejudicar por um lado, mas afirmam que isso fortalece o rock no futuro. “O rock nunca vai morrer. O garoto que escuta ‘Raistart’ (SIC) hoje vai cansar, e vai atrás dos clássicos amanhã, é como diz a música, essas modas passam, mas o rock é eterno” afirma Marcelus. Na verdade, ele sente pena dos pais, que precisam comprar calça colorida, escutar essas coisas e atender a vontade dos filhos, mas sabe que um dia as crianças crescem.
Mesmo antes de lançarem o Igreja Universal do Reino do Rock, a banda já buscava uma forma de distanciar sua imagem do “AC/DC cover”. Ainda assim, eles reconhecem que o show que deu mais tesão de abrir foi o do AC/DC, embora outras conquistas já tenham sido alcançadas, como o show que eles abriram para o Motorhead, em que o clipe de Vamo Vamo fez Lemmy e companhia dar a eles o encargo de abrir o show mesmo depois de já ter tudo combinado com outra banda.
Quem acha que o Motorocker é uma banda de 5 membros, se engana. A banda é muito mais que isso. Técnicos de som e rodies são membros tão importantes na banda, que parte do que é escrito aqui é contado por eles. Ali, todos são irmãos, e já estão juntos há tanto tempo que seria impossível não citar esse pessoal. “e o que motiva a banda a seguir em frente?” pergunto capciosamente, e a resposta, que encerra essa matéria, é “o tesão pelo rock cara. É fazer o ingresso que nossos fãs pagam valer a pena. É o orgulho de ser daqui, e levar o nossa terra pra outros lugares. Somos o que somos, viemos de onde viemos e temos orgulho de levar isso pra todos os cantos”.
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